maio 21, 2009

Política Monetária do Cafezinho

O Shikida trouxe para o blog dele o problema do uso de uma máquina de fazer café em uma redação de jornal. Para sintetizar, existe uma máquina de café que só se alimenta de fichas vendidas em um caixa. As fichas são vendidas no meio da semana, mas como as redações trabalham nos finais de semana, muitos jornalistas estão acumulando fichas para gastá-las neste período. O problema: a acumulação de fichas cresceu tanto que estão faltando fichas para ser vendidas ao longo da semana, e isto gera um custo para o vendedor das fichas (tanto por perder dinheiro, com a falta das vendas, quanto pela necessidade de abrir a máquina de café com maior frequência para conseguir as poucas fichas disponíveis).

Defina M como a quantidade de fichas circulando na economia (ou melhor, na redação do jornal). Esta quantidade de fichas inclui as que estão presas na máquina, as que estão acumuladas no caixa e as que estão acumuladas pelos jornalistas. Defina P como o preço do café (no caso, R$0.25), Q é o número de cafés vendidos. Tirando do fundo do baú (mas nem tanto) a boa e velha Teoria Quantitativa do Friedman, temos a relação:



M V = P Q


Onde, neste caso, V é a conhecida "velocidade de circulação" das fichas na economia-redação. No lado direito da equação temos o valor nominal do total de cafés circulando, que deve ser igual a "V" vezes o total de fichas da economia. O problema da economia é que, dado uma quantidade M e um preço P, V está caindo, pois o número de usos das fichas está sendo menor do que o valor nominal das vendas do café. A consequência é que Q está sendo ajustado para compensar a queda em V.

Solução simples 1: dado que V está caindo, e não é bom para ninguém que Q caia, então que M cresça para compensar o aumento da demanda por fichas.

Solução simples 2: reduzam o preço do café, fazendo com que uma ficha possa comprar mais do que um café. Operacionalmente é mais difícil que a primeira solução, mas é uma saída lógica para o problema, já que, com o café mais barato, mais gente vai usar as fichas guardadas para tomar mais café. Para os interessados em política monetária, é um aumento dos saldos reais através de uma deflação dos preços.

Solução alternativa 1: conceda-se uma permissão para alguém explorar a venda de fichas ao longo do final de semana, ganhando dinheiro através de um spread sobre o preço das fichas durante a semana. Isto pode induzir a um maior entesouramento, ainda que tenha a vantagem de regular melhor a oferta de fichas.

Solução alternativa 2: permita-se que a máquina aceite outras fichas, tais como moedas de R$0.25. E deixe o mercado escolher qual a melhor moeda para esta transação. É uma solução estilo "free-banking", das antigas.

Entre todas as soluções, ainda acho a primeira a mais factível: a partir do instante que a quantidade de fichas na economia-redação estiver melhor calibrada (e com um aumento de fichas, e não queda, Shikida!) os incentivos para a formação de reservas adicionais de fichas devem ser reduzidos naturalmente. Ainda vai existir o entesouramento, mas é possível que uma parte disto seja consequência do conhecimento geral da redação a respeito da falta de fichas no mercado. Ou seja, os agentes (usuários da máquina de café) aprenderam a regra de política monetária (quantidade de fichas constante no tempo) e resolveram se adaptar. É razoável mudar a política, dado que ela não é ótima para nenhuma das partes.

Abraço!



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