setembro 28, 2011

No Ar

Já está no ar, na minha página pessoal, o meu trabalho mais recente, aceito para apresentação em dois encontros: o Encontro Latino-Americano da Econometric Society (LAMES), em novembro, e o Encontro Brasileiro de Econometria, organizado pela Sociedade Brasileira de Econometris (SBE), em dezembro. Uma versão mais elaborada, e, espero, devidamente criticada depois das apresentações, deve sair daqui algum tempo nos Working Papers do Banco Central.

Abraços!

setembro 18, 2011

De Volta ao Convencional

Encontrei na internet publicado como Working Paper do Federal Reserve de Kansas o trabalho de um amigo, colega durante o doutorado, que agora trabalha na instituição. Eu já tinha visto versões preliminares do trabalho do Andrew, em termos de proposta e linhas de desenvolvimento, mas não conhecia a versão final do "job market paper" quando me formei. O trabalho é altamente relevante para banqueiros centrais, ainda mais em um ambiente de política monetária não-convencional. A pergunta que Andrew tenta responder é: qual a melhor estratégia para o banco central sair da política não-convencional? Em outras palavras, com que velocidade a autoridade monetária deve se desfazer dos ativos de risco que adquiriu durante o período de crise financeira?

A estratégia para responder a pergunta é baseada em uma sofisticação aparentemente (e só "aparentemente") trivial dos modelos DSGE com fricções financeiras: assume-se a existência de eventos tão raros na economia (Rietz, 1988, Barro, 2006, e Barro, 2009) que certos parâmetros estruturais do modelo mudam de acordo com uma cadeia markoviana, onde a probabilidade de mudança para o estado de "eventos raros" é muito pequena, porém diferente de zero. O resultado mais interessante do artigo é que o banco central corre riscos, ao vender os ativos muito rapidamente, de gerar uma segunda recessão - um movimento em "W", ou "double-dip" no ciclo econômico, como aparece no noticiário.

Dois comentários a respeito do artigo, o primeiro tratando da metodologia aparentemente trivial, o segundo sobre possíveis desenvolvimentos do artigo e a crítica fácil em economia. A respeito da metodologia, o autor desenvolve uma estrutura complexa para caracterizar o uso de políticas não-convencionais pela autoridade monetária: enquanto os parâmetros referentes à qualidade do capital e a regra de Taylor mudam de acordo com o regime (crise/normal), os parâmetros de intervenção não-convencional mudam de acordo com a escolha da autoridade monetária entre intervir no mercado de crédito ou não. Assim, formam-se cinco regimes na economia, de acordo com a combinação crise-período normal e intervenção-não intervenção no mercado de crédito (ver tabela 1 e figura 2 na página 22).

Esta configuração de modelo, gerando "jumps" nas funções de resposta dos agentes, dependentes do regime vigente na economia, não permite o uso da estratégia tradicional de (log-)linearização das condições de equilíbrio do modelo, já que, eventualmente, as funções de resposta são contínuas apenas "dentro" de cada regime - logo, o princípio do "equivalente-certo" não se aplica, necessitando, no mínimo, aproximações de ordem maiores do que a linear para caracterizar a solução do modelo. O uso de soluções não-lineares para o modelo traz complicações adicionais para os empiristas de plantão, já que o trio que forma a estimação no Dynare (aproximação linear - Filtro de Kalman - estimação) não pode ser aplicado.

Este último aspecto inicia o meu segundo comentário. A crítica fácil de um trabalho destes é dizer que o autor deveria estar "sempre preocupado em estimar o modelo, e não apenas fazer exercícios de calibragem". Outra crítica fácil seria dizer que "o modelo é muito simplificado, não tem nem setor externo". Estes são comentários que nos fazem parecer inteligentes nos seminários, já que, afinal de contas, o autor teria ignorado itens muito importantes. Na verdade, este tipo de comentário não passa de um atestado de supremo desconhecimento do que está sendo apresentado: ao invés de se perguntar por que o autor não fez um determinado procedimento, é mais fácil jogar a pergunta no ar e fazer a pose de sério no seminário.

Aprendam, economistas: se um autor não fez um determinado procedimento em um artigo (estimar parâmetros ou acrescentar mais estrutura no modelo), ele não o fez por bons motivos. Não sei, por exemplo, qual seria a resposta do Andrew para estas perguntas, mas fatalmente passaria pela dificuldade de estabelecer a estimação de um evento raro (se houvesse amostra para tal estimação, o evento não seria raro...), pelo procedimento de estimação de modelos sem usar o Filtro de Kalman para obter a função de verossimilhança, e pela necessidade de simplificar o modelo, já que o setor externo não é, necessariamente, relevante para caracterizar o problema da crise na economia americana. A melhor resposta que eu ouvi para este tipo de questão foi em uma palestra do Ricardo Reis aqui no Brasil: "eu não coloquei a estrutura que você sugere porque eu quis, com este artigo, mostrar uma metodologia e caracterizar o problema da forma mais básica possível. Concordo com você que estes elementos são importantes na pesquisa atual, mas os computadores e o papel em branco estão disponíveis tanto para mim quanto para você: você pode sentar na frente do computador e escrever o modelo como você quiser, fique à vontade. Eu só quis mostrar a metodologia para resolver o problema."

Desculpe o breve desabafo neste último comentário, mas certas coisas deveriam ser mais evoluídas aqui no debate econômico. Fica a dica de leitura do artigo.

Abraços!


setembro 02, 2011

FOMC: Explicações de um Dissidente

Muito interessante o discurso de Narayana Kocherlakota, presidente do FED de Minneapolis, publicado no site da instituição, sobre a condução do FED durante a crise e as perspectivas futuras de ação do FOMC. O discurso é especialmente relevante por apresentar, de forma clara e transparente, os motivos que levaram Kocherlakota a ser um dos dissidentes da última reunião do COPOM de lá. Como registro histórico, a decisão de "warrant exceptionally low levels for the federal funds rate at least through mid-2013" foi a que gerou a maior divisão nos últimos 20 anos de história de reuniões do FOMC, com três membros do comitê discordando do resultado final.

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